quarta-feira, março 15, 2006

Carta Aberta ao Ministro Planeamento - Ano de 1994

Ex.mo Senhor
Ministro do Planeamento e Administração Territorial


A Tuna da Universidade Católica Portuguesa – Porto (TUCP) tem olhado com crescente preocupação para o estado de negligência e abandono a que tem sido votado o arquipélago das Ilhas Berlengas. Esta importante parcela do nosso território tem um valor inigualável em termos ecológicos, históricos e sociais e é com mágoa imensa que verificamos a pouca importância que V. Ex.a tem dado ao desenvolvimento destas pérolas do Atlântico.
Imbuídos do mais elevado espírito patriótico, propomo-nos reverter esta situação, de modo a conferir a este território a grandeza que está gravada nas cicatrizes ancestrais da terra-mãe e na memória social do povo que a venera.
Sentimos, no nosso íntimo, que o Estado Português não tem cuidado das mais elementares necessidades dos seres vivos que a esta terra estão ligados por laços umbilicais, quer os laços do espírito (a TUCP), quer os laços físicos de quem a habita (as gaivotas e o faroleiro).
É assim nosso propósito auxiliar V. Ex.a a cumprir a missão que lhe foi confiada pelo voto do povo português. Cientes das altas responsabilidades que lhe estão cometidas e do parco tempo que dispõe para as cumprir, bem como da incapacidade dos responsáveis directos pelo referido território para aplicar o plano de desenvolvimento que V. Ex.a certamente terá em mente para esta região, tomamos a nosso cargo a elevada responsabilidade nacional de proporcionar às Ilhas Berlengas o primordial papel que há muito lhe é devido no panorama sócio-económico-político-cultural mundial.
Vimos assim, por este meio, solicitar a V. Ex.a a transferência da posse administrativa do arquipélago das Ilhas Berlengas para a Tuna da Universidade Católica Portuguesa – Porto.
Consideramos a resposta afirmativa a esta nossa pretensão como o terceiro mais importante evento da história deste território, depois da Descoberta das Ilhas e da Construção do Farol.
São objectivos imediatos da nossa intervenção os seguintes pontos:
1) Nomear um governo administrativo que ponha cobro ao abandono a que estas ilhas têm sido submetidas;
2) Promover a sua ligação preferencial ao espaço atlântico, assumindo as Berlengas como ponta de lança para a Comunidade Atlântica Insular (CAI), conjuntamente com o arquipélago da Madeira, arquipélago dos Açores, ilhas Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Ilha da Culatra, Farol do Bugio, Ilha do Pessegueiro, Ilha da Armona, Ilha do Farol, Enclave do Porto de Leixões e o Farilhões (para que ninguém diga que a CAI não tem os Farilhões);
3) Preservar a sua riqueza ecológica, com a construção de infra estruturas de apoio à vida selvagem, como ninhos de gaivota com aquecimento central, grutas para cabras com saneamento básico e um centro de saúde para o faroleiro;
4) Desenvolver os sectores turísticos e culturais (com a promoção de um Centro Internacional de Actividades Tunísticas);
5) Desenvolver o potencial vitivinícola do território, através da criação da Região Demarcada das Ilhas Berlengas;
6) Fundar a Universidade Internacional da Ilhas Berlengas, com Licenciaturas em Ciências Ecológicas, Ciências Agro-Vinícolas e Tecnologias de Comunicação Marítima;
7) Construção de um Aeroporto Internacional;
8) Modernização das Forças Armadas das Ilhas Berlengas, com a aquisição de uma traineira;
9) Edificação de uma catedral em honra a S. Domingos da Ventosa, Santo Padroeiro das Ilhas Berlengas e patrono dos Desentupidores de Pias;
10) Modernização do Farol, com pintura e instalação de um elevador;
11) Promover as I Jornadas Gastronómicas das Berlengas, dedicadas à culinária gaivotense.

Não querendo ser exaustivos, sentimos que os serviços que V. Ex.a dirige falharam sistematicamente na aplicação de medidas fundamentais similares às acima descritas, que permitissem o desenvolvimento desta região no sentido de, mais do que só o Farol, tornar as Berlengas o Farol da Humanidade.
Pelos motivos acima expostos e pela urgência da resposta às legítimas aspirações do povo berlenguense, há tanto tempo adiadas, contamos com a decisão de V. Ex.a no prazo de um mês. Caso essa resposta não seja de encontro aos nossos propósitos, a Tuna da Universidade católica Portuguesa – Porto, através do seu núcleo Movimento Autónomo de Libertação das Ilhas Berlengas, declarará a Independência Unilateral das Ilhas Berlengas.
Como conselho de amigo, propomos que não leve esta questão ao Parlamento da Assembleia da República, porque senão nunca mais se safa. Fale só com o Soares e o Cavaco, assim como quem não quer a coisa, que eles é que sabem.
Seguros que não defraudará a confiança em si depositada para a resolução do problema das Ilhas Berlengas, despedimo-nos com as nossas mais cordiais

SAUDAÇÕES ACADÉMICAS

A Tuna da Universidade Católica Portuguesa - Porto (1994)